Prega a Palavra de Karl Lachler

Confira o livro Prega a Palavra de Karl Lachler na Amazon Karl Lachler  é um autor que desempenhou um papel significativo no cenário religioso brasileiro.  Foi missionário durante   32 anos   no Brasil. Ele colaborou na implantação de igrejas, incluindo a   Primeira Igreja Batista de Fernandópolis   e a   Segunda Igreja Batista de São José do Rio Preto .   Além disso, ele foi um dos pastores fundadores da   Primeira Igreja Batista de Atibaia.   Lachler também lecionou na   Faculdade Teológica Batista de São Paulo   por   18 anos . Seu compromisso com a pregação expositiva e o ensino da Palavra de Deus é evidente em sua obra. Um de seus livros notáveis é   “ Prega a Palavra: Passos Para a Pregação Expositiva ” .   Neste livro, ele oferece orientações valiosas sobre como pregar a Palavra de Deus de forma eficaz, destacando a importância da pregação expositiva e fornecendo uma metodologia prática para os pregadores . Este livro é uma obra útil para seminaristas, iniciantes no ministério

A Vocação Espiritual do Pastor: Redescobrindo o Chamado Ministerial, de Eugene Peterson

vocação espiritual do pastor eugene peterson

Peterson, Eugene. A Vocação Espiritual do Pastor: Redescobrindo o Chamado Ministerial. Traduzido por Carlos Osvaldo Cardoso Pinto. São Paulo: Mundo Cristão, 2006.

O autor Eugene Peterson no livro A Vocação Espiritual do Pastor fala do chamado pastoral de forma pessoal e íntima procurando responder o que é na verdade o chamado pastoral. O texto demonstra que o autor tem vasta experiência pastoral além de interesse e apoio ao ministério de tantos colegas pastores que enfrentam crises ministeriais e de identidade vocacional.
O tema do livro é o ministério pastoral em si. O que é ou o que deveria ser o papel do pastor. Este vem se desgastando com o tempo e mudando o seu foco central. Peterson tenta reverter a força centrípeta que velozmente vem forçando pastores a cair em abismos fora de sua real vocação para a força centrípeta voltando ao âmago de seu chamado espiritual.
Uma interessante constatação de Peterson é que durante muito tempo as igrejas foram assemelhadas a empresas e consequentemente seus pastores foram se tornando executivos, se não empresários da religião. Quando a igreja se torna uma empresa, passa a valorizar mais os resultados do que as vidas e quando um pastor se torna um executivo, passa a ser um robô que executa tarefas religiosas de forma ativista ou pior quando é um empresário religioso interessado mais em números do que em vidas, na verdade é um mercenário.
Quando as atividades do ministério pastoral são mais importantes que seu relacionamento com Deus, ou seja, o pastor é tão ocupado que não tem tempo nem para orar e ler a Bíblia vivendo sua própria espiritualidade, certamente perdeu-se o foco. Muitas vezes somos tão ativistas que isso acontece.
Por causa disso tudo, Peterson propõe uma mudança de significado para a palavra pastor, de ‘diretor de programação’ para ‘diretor espiritual’. Um diretor de programação é quem apenas organiza e participa dinamizando atividades religiosas da igreja: reuniões, cultos, festividades, ministérios ou grupos, visitas e outras celebrações sociais. Um diretor espiritual seria alguém preparado e ocupado prioritariamente com a oração e a leitura da palavra como foi muito bem esclarecido em Atos 6.4: ‘e quanto à nós,nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra’.
Interessante que o autor descreve este papel muito claro entre várias religiões que têm seus mestres e gurus como diretores espirituais e nunca como diretores de programação. Quando um líder é reconhecido pela comunidade como um diretor espiritual, certamente a comunidade bem cuidada e nutrida espiritualmente irá cuidar das suas próprias programações. Peterson descreve como teve que aprender a deixar a igreja cuidar da programação para que ele aprendesse a dirigi-los espiritualmente.
O que Peterson descreve em seu texto transparece suas próprias crises e questões e como pôde resolvê-las dando a seguir pistas de como outros pastores podem vencer estes problemas. Para mim, ao ler vários parágrafos, voltava ao título do livro para conferir se não o tinha confundido com meu próprio diário de orações. Parecia que estava falando de mim ou que fossem minhas palavras. Essa identificação, avalio eu, provém de algo que na verdade é o assunto do texto e ao mesmo tempo está em meu íntimo: a vocação pastoral.
O autor também afirma se identificar com outro livro e personagem Bíblico que é Jonas. Este não é o melhor dos exemplos de chamado, mas por isso mesmo mostra na verdade o que somos e as crises que enfrentamos. Deste modo, o roteiro da viagem de Jonas a Társis, seu naufrágio, salvamento e caminhada ate Nínive até descansar sob a sombra de uma planta, é descrito pelo autor nos cinco capítulos do livro representando os momentos enfrentados no ministério pastoral e ilustrados ainda com experiências da vida ministerial de Peterson.
No primeiro capítulo, Comprando a passagem para Társis, Peterson fala da desobediência de Jonas ao tomar direção diferente do chamado que recebeu de Deus. A partir deste fato o texto esclarece como tantas vezes desobedecemos ao Senhor por fazer o que Deus não mandou ou não fazer o que nos chamou. Ser pastor deve ser algo mais simples possível, quanto mais pompa e exigências, menos pastoral ou vocacionado e mais profissional. Mas a obediência de Jonas foi pior que sua desobediência, pois quando foi à Nínive não amou aquele povo, mas teve compaixão de seus amigos no barco que ia para Társis.
O fato de fazermos coisas ‘espirituais’ não significa que sejamos realmente espirituais e o fato de orar, cantar, visitar e pregar não significa que sejamos realmente pastores e nem que estejamos obedecendo ao chamado de Deus, se não houver amor pelas almas continua sendo desobediência. Társis representa o conforto, amigos e a falsa religião. Estamos indo para Társis quando, às vezes, estamos bem entre amigos e numa situação confortável ministerialmente, mas não estamos obedecendo ao chamamento de Deus.
No segundo capítulo, fugindo da tempestade o pastor Jonas dormia enquanto seus amigos gritavam e clamavam ao seu deus. De repente o conforto que o caminho para Társis proporcionava é interrompido por uma terrível tempestade. Mas Jonas estava dormindo e parecia ignorar o terror que se apresentava. Como ele podia fazer isso? Dormir durante uma tempestade parece algo impossível, mas é o que fazemos quando não queremos ver a real situação diante dos nossos olhos. É mais um comportamento de fuga.
Peterson define as coisas mais importantes no ministério pastoral em apenas duas palavras: Deus e Paixão. Afirma que o pastor não pode perder a visão de quem o chamou. Se tiver sempre esta certeza de que está a serviço do Rei, manterá aceso seu chamado. Consequentemente a paixão também permanecerá viva. Essa paixão pelas almas e pelo que se faz é que fortalece a cada dia o pastor para ouvir as histórias das pessoas, suportar seus defeitos e exigências e principalmente amá-las. Somente quando lidamos diretamente com Deus conseguimos sentir paixão pelas pessoas.
Foi na tempestade em que Jonas percebeu sua culpa e sentiu compaixão por seus amigos que pereciam ao léu no navio que ele fez a forte declaração: Lançai-me no mar! É o que fazemos muitas vezes quando despertamos de um profundo sono durante uma tempestade. Jonas não foi lançado do barco desejando ir para Nínive. Ele não queria ir para lugar algum. Esta foi mais uma fuga. Gritamos ‘lançai-me no mar’ toda vez que desistimos de uma situação difícil e preferimos ser levados pelas ondas a tomar decisões. Aqui me ocorreu um alerta: quando não obedecemos ao chamado, provocamos tempestades e colocamos muitas vidas em risco.
O terceiro capítulo, No ventre do peixe descreve especialmente a oração de Jonas no ventre do peixe. A askesis é o principal exercício espiritual para o ministério pastoral. A disciplina de oração e leitura bíblica é o que sustenta a vocação do pastor. Peterson afirma que é preciso tomar cuidado com o ego, com a instituição e com a congregação embora não podemos desprezar nenhum destes. A askesis direciona à santidade vocacional, revela as mazelas do ego, ajuda a suportar as exigências da instituição e ensina a amar a congregação apesar de suas limitações. Um grande perigo para o pastor é se enganar ou iludir pensando ser um ‘deus’ por abençoar e salvar vidas.
Foi no ventre do peixe que Jonas fez sua askesis. Ali ele orou desconfortavelmente, mas de todo o coração. Durante três dias ele esteve ali e não houve nada mais que pudesse fazer a não ser orar. Então ele orou fervorosamente lembrando-se de trechos dos Salmos. Semelhante a Jonas, também deixamos muitas vezes para orar quando já fomos lançados pelas tempestades e engolidos por circunstâncias maiores do que nós. Por isso Peterson destaca que a askesis deve ser prioridade na vida pastoral. Não vivemos em mosteiros como faziam os monges ao exercitar a askesis, mas podemos ter o que Peterson chama de ‘mosteiro sem muros’ podendo orar em todo tempo e lugar (I Timóteo 2.8).
O que Jonas fez ao referir-se a diversas passagens de Salmos em sua oração no ventre do peixe é o que Peterson chama de ‘escola da oração’ inspirado por Agostinho. Os Salmos são uma ferramenta para esse exercício espiritual proposto pelo autor em três momentos: adoração dominical com nossa comunidade, a oração diária nos Salmos e a oração recordada durante as oras do dia. Ou seja, o que é aprendido nos cultos em conjunto com a igreja local, é exercitado diariamente orando à luz dos Salmos e recordado durante as oras do dia em orações pequenas que fazemos como expressão da comunhão já estabelecida com Deus.
Peterson também compara a askesis com o cultivo de uma planta onde a Palavra Querigmática de Deus é o clima propício, nossa espiritualidade é o solo e as disciplinas da askesis são as ferramentas para cuidar do canteiro. Sendo assim, após plantar é preciso apenas esperar que o solo/espiritualidade e o clima/Palavra de Deus façam brotar a semente. Essa paciente espera do agricultor é chamada por Peterson de ‘o pastor contemplativo’ para ilustrar a importância da vida de oração, estudo da palavra e meditação para o ministério pastoral. Enquanto o pastor contempla, a planta cresce. É necessário contemplar mais e ver Deus agir e não querer ser deus e agir.
À procura do caminho para Nínive é o título do capítulo quatro, que descreve a caminhada de Jonas para Nínive após ter sido vomitado pelo peixe que o resgatou da tempestade. O sentimento de Jonas foi de ira. Ele obedeceu indo para Nínive, mas não amou aquele lugar tendo compaixão de suas almas, antes com prazer anunciava sua mensagem: “ainda quarenta dias e Nínive será subvertida”. O único prazer que demonstrava ter seria a oportunidade de ver a cidade ser destruída, o que se dispôs a assistir de camarote debaixo da sombra de uma planta. Este momento de Jonas representa as horas de ira no ministério pastoral quando não amamos o lugar onde estamos e deixamos de ver seu potencial para destacar suas dificuldades.
Sobre o episódio de Jonas andando e anunciando irado sua mensagem de destruição, Peterson deixa novamente duas palavras de forma bem singela e prática para a memória do leitor: geografia e escatologia. A geografia é o local onde o pastor está. Ali é o seu campo missionário. Como o espaço de uma fazenda onde se planta sua lavoura. A congregação é o solo fértil onde se deve plantar a semente e cuidar para que brote. A escatologia é destacada pela mensagem de Jonas que anunciava um fim. Contudo a mensagem escatológica do pastor é a boa nova do evangelho. No ministério pastoral é preciso conciliar estas duas coisas: geografia e escatologia como o terreno e a semente. A geografia é o lugar, a congregação ou solo fértil e a escatologia é a semente, mensagem da Palavra de Deus.
O último capítulo do livro é Brigando com Deus sob a planta imprevisível que descreve o melhor e o pior acontecimento para Jonas após uma viagem mal sucedida, uma tempestade, três dias no ventre de um peixe, estar em meio ao vômito, caminhar para onde não quer ir e chegar ao pior lugar do mundo que para ele era Nínive. A melhor coisa foi brotar uma planta para dar sombra enquanto assistiria confortavelmente a destruição de Nínive. A pior coisa foi aquela planta ter morrido, o sol queimava sua testa e pra piorar o povo da cidade se converteu cancelando o espetáculo destruidor de Nínive.
Para Peterson, esta briga com Deus é comum entre os vocacionados. Primeiro é preciso haver certa confusão para então encontrar criatividade para gerar uma solução inovadora. Jonas não estava entendendo o que acontecia na hora que tudo parecia dar certo e terminar como ele queria. A planta secou por que Jonas teve mais interesse por sua sombra do que pelas vidas dos ninivitas que pereceriam.
Dentre as experiências de vida de Eugene Peterson, suas histórias e autores que citou, chamou-me atenção o discipulado ou mentoria presente em sua vida através de sua mãe com suas pregações, além de Fiódor Dostoiévski e Leonard Storm que marcaram sua vida. O autor se permitiu aprender, errar e mudar. Pastores precisam de referenciais no ministério e principalmente na vida pessoal. Como posso discipular se não for também um discípulo? Como ser mestre sem ter um mentor? Impossível. A principal afirmação do livro é que a vocação do pastor é espiritual e não um diretor de programações de um grupo social.
A linguagem de Peterson é tão pessoal e envolvente que parecia conhecer o personagem Jonas pessoalmente dando ao leitor a mesma sensação de se ver presente no texto. Na verdade este Jonas pode se chamar Peterson, Welfany ou quantos outros nomes de pessoas chamadas por Deus e que ora relutam nisso ou às vezes obedecem desobedecendo.
Quantas vezes fazemos essa viagem e repetimos esta história no lugar de Jonas. O navio para Társis é lugar de desobediência, a tempestade dá lugar ao medo e ao sono. O ventre do peixe é onde Jonas orou e onde muitas vezes aprendemos que tudo que devemos fazer é orar. A estrada para Nínive é a caminhada de reflexão e obediência, a mensagem a ser proclamada é de salvação e não de destruição. E a sombra da planta é lugar de ira, de conforto e desconforto, de aprender a ter compaixão das vidas e também um lugar questionamento com Deus.
O texto de Jonas termina com uma pergunta de Deus para ele se teria ou não compaixão daquele povo. A falta de uma resposta de Jonas, segundo Peterson, é proposital para que fique a reflexão de cada pessoa vocacionada como Jonas, pessoalmente para Deus. Esta característica literária permite que cada leitor continue a escrever esta história que até este momento costuma se repetir de forma semelhante, mas que pode terminar melhor.


Comentários