Manto de Cristo - Lloyd C. Douglas

O Manto de Cristo é um romance histórico e religioso escrito por Lloyd C. Douglas , publicado originalmente em 1942. A obra gira em torno de Marcellus Gallio , um jovem centurião romano que  por punição política, é enviado à Palestina. Lá, ele participa da crucificação de Jesus e, por acaso, ganha sua túnica em um jogo de dados. A partir desse momento, Marcellus começa a sofrer crises emocionais e espirituais, sentindo-se profundamente perturbado pelo que presenciou e pelo estranho poder que o manto parece exercer sobre ele. Enquanto Marcellus tenta compreender o significado do manto e lida com uma crescente crise de fé e identidade. Ao longo do caminho, ele encontra personagens marcantes e é confrontado com os valores do cristianismo nascente, em contraste com os costumes decadentes do Império Romano. Movido por uma inquietação crescente, ele parte em uma jornada para descobrir quem foi Jesus. Ao lado de seu escravo e amigo Demétrio , Marcellus encontra discípulos e se...

O Evangelho Social: Aspectos históricos e teológicos: Camargo.

mãos unidas solidariedade

 César S. Camargo. “O evangelho  Social: aspectos históricos e teológicos” Simpósio (31) Deze. 1988, ASTE, PP.254-262.

César Camargo conta a história da formação do Evangelho social e seus aspectos teológicos com dados importantes e nomes relevantes para este movimento que tanto influenciou a cristandade do final do século XIX, através do século XX e até os dias atuais do início do terceiro milênio.

Camargo defende a formação do Evangelho Social como algo saudável para a Igreja cristã e relata os acontecimentos, textos e influenciadores do movimento tanto dentro da Igreja como fora desta sem ignorar as lutas e perseguições tanto internas como externas ao ambiente eclesiástico.

Houve uma dificuldade interna na Igreja entre ser voltada para si mesma com aspectos céticos de uma santidade baseada no isolamento ou ser uma igreja aberta para o mundo respondendo aos desafios sociais e manifestando-se contra a injustiça. Tudo isso gerou um cisma dentro da igreja. Os atores deste conflito foram de um lado uma corrente fundamentalista e de outro os esforços pelo liberalismo teológico. Os conservadores manifestaram apoio à ordem social legitimando com preceitos bíblicos de obediência e temendo influências do comunismo.

As principais diferenças entre as duas correntes teológicas são:

Fundamentalismo

Liberalismo

-tem universo teológico ordenado e coerente; 

-volta-se para a Bíblia se esquecendo da sociedade;

-o mundo externo é visto como mau fruto da perversidade humana;

-prega a conversão individual;

-legitima a ordem social da maneira já estabelecida;

-acredita que o progresso se encarrega de corrigir os erros sociais;

-tem correntes pietistas e místicas entre os seus seguidores.

-tem universo teológico diversificado e está aberto para questionamentos;

-volta-se para a sociedade a partir da leitura da Bíblia;

-o mundo externo é visto com desejo de transformação acreditando no potencial humano;

-acredita na salvação social;

-a Igreja deve se direcionar a sociedade para transformá-la;

-relaciona a fé com ação social;

-ensina o compromisso com o próximo;

-idealismo moral e visão liberal da santidade;

 Através do liberalismo teológico uma nova interpretação da Bíblia começou a ser feita através de uma leitura voltada para a visão do Reino de Deus em busca de justiça e igualdade sociais. Começou a perceber nos ensinos de Jesus uma preferência pelos pobres e marginalizados e o seu desejo por justiça era chamado por Ele de Reino de Deus. A salvação perdeu seu sentido futurista e passou a ser considerada como algo atual além de coletiva.

A partir de então os temas sociais passaram a ser discutidos nas igrejas cristãs e nos seminários teológicos que se abriram para disciplinas humanísticas e sociológicas. Com o aumento da crítica ao sistema capitalista começou a surgir o desejo uma sociedade marcada por valores cristãos e a Igreja percebeu que a mudança deveria ser iniciada por ela através de ações que fossem sinais do Reino de Deus.

O advento do marxismo foi um grande influente para o pensamento social no meio cristão. As crises nas cidades levaram a uma decepção com o capitalismo e a igreja que estava ensimesmada se abriu para a sociedade. No mesmo ano de 1848 que foi publicado o Manifesto Comunista um movimento paralelo chamado “cristãos socialistas” na Grã-Bretanha começou a influenciar as igrejas da Europa por um comprometimento maior com a sociedade.

O credo social composto pelo Conselho Federal das Igrejas de Cristo na América serviu como norteador do pensamento social cristão representando a unidade das igrejas voltadas para os problemas da sociedade. Além de muita literatura ao redor do tema, até mesmo diversos hinos foram compostos expressando o desejo por justiça. Camargo lamenta que destas literaturas e hinos do Evangelho Social pouco fosse introduzido no Brasil causando uma deficiência social no pensamento protestante brasileiro.

O desejo de grandes teólogos e líderes que marcaram o Evangelho Social como Rauschenbusch não era aniquilar o então sistema social e sim uma mudança de direção para os desfavorecidos pela sociedade buscando levantar instituições para a implantação do Reino de Deus na terra. O sentimento destes líderes era de inconformismo e sua ação voltada para a mobilização de pessoas em favor do próximo e contra toda injustiça. Deste modo as estruturas sociais e suas instituições ao invés de legitimar as injustiças devem lutar para o que Rauschenbusch chamou de “cristianizar a ordem social” que levaria até mesmo “homens maus a fazer coisas boas” ao invés de uma ordem social não cristã que força homens bons a fazer o que é incorreto.

Síntese dos ‘profetas’ que marcaram o surgimento do Evangelho Social:

Nomes

Data referência

Dados

Alberto Ritschl

1822-1889

-teólogo luterano influenciado pelo hegelianismo[1]

-ênfase no Reino de Deus com dimensão coletiva

-pregava amor a Deus motivando a amar ao próximo.

-influenciou estudantes que difundiram suas ideias;

Papas Leão

 XIII e Pio XI

1878-1903

1922-1939

-atividades religiosas pela reforma social

Samuel Gompers

1898

-organizações trabalhistas;

Harce Bushnell

1802-1876

-teólogo congregacional colaborou para a expansão do liberalismo;

- textura social: condições sociais para o desenvolvimento do caráter;

-referia ao pecado na dimensão social;

-influenciado por Tayor Coleridge (Inglaterra 1772-1834) que fazia ligação entre fé e razão.

Josias Strong

1902

-secretário geral do ramo norte-americano da Aliança Evangélica que depois mudou para Federação Nacional de Igrejas e Obreiros Cristãos e posteriormente Conselho Federal das Igrejas de Cristo na América;

-escreveu o livro “O Próximo Grande Despertamento”

-participou da redação do “Credo Social” do então Conselho Federal das Igrejas de Cristo na América

 Washington Gladden

1902

-pastor congregacional;

-considerado ‘pai’ do Evangelho Social nos EUA;

-defendeu o “cristianismo aplicado” e condenou o “deixar fazer”;

-escreveu o livro “Salvação Social”

Charles M. Sheldon

1896

-escreveu o livro “Em seus passos que faria Jesus?” que foi uma variante pietista do Evangelho Social e influenciou muitos fundamentalistas até então fechados para o compromisso social.

-escreveu o livro “A Crucificação de Felipe Strog”.

Walter Rauschen-busch

1861-1918

-de família alemã refugiados nos EUA;

-conhecido como “grande profeta do Evangelho Social”;

-teólogo batista pastoreou comunidades de origem alemã no subúrbio de New York e relacionou os problemas sociais do povo com a Bíblia;

-acreditava na essência do Reino de Deus pregado por Jesus;

-almejava uma mudança na ordem social de forma a ‘cristianizar’ para favorecer a sociedade;

-difundiu suas idéias no periódico “For The Right”

-participou da escrita do artigo “Interesses da Classe Trabalhadora”

-participou da fundação do “Brotherhood of the Kingdom”.

-seus pensamentos influenciaram “The Social Principles of Jesus”

-publicou “Cristianismo e a Crise Social” em 1907 e “Teologia do Evangelho Social” em 1918 que são suas principais referências;

-outros textos seus: “Prayers of the Social Awakening” e “Cristianismo e Ordem Social”;

 Camargo trata o problema da ausência social nas igrejas como uma “escravidão ética” e se refere ao movimento do Evangelho Social como “profetismo” e seus líderes profetas.

Os eventos que marcaram o Evangelho Social foram:

-o Manifesto Comunista em 1848 que foi base do Movimento “cristãos socialistas”;

-a discussão teológica do liberalismo substituindo conceitos fundamentalistas conservadores conformados com o sistema social;

-o surgimento de organizações trabalhistas lutando por direitos humanos não contemplados pelas cidades e a industrialização;

-o Credo Social que difundiu o pensamento cristão socialista;

-a Conferência Ecumênica de Estolcomo em 1925;

-a Conferência Ecumênica de Oxford em 1929;

-o Concílio Universal para a Vida e Trabalho formado em 1929.

Isso tudo representou uma mudança de ideologia que não foi fácil. Era preciso quebrar conceitos cristalizados e formar um novo ideal. A partir de 1930 a teologia liberal alcançou autonomia em seus padrões teológicos independentes aumentando seu criticismo quanto a ordem estabelecida.

Textos e obras que marcaram o Evangelho Social foram:

-o Manifesto Comunista em 1848;

-o livro “O Próximo Grande Despertamento” de Josias Strong;

-o “Credo Social” do então Conselho Federal das Igrejas de Cristo na América”

-o livro “Salvação Social” de Washington Gladden em 1902

-os livros “Em seus passos que faria Jesus?” e “A Crucificação de Felipe Strog” de Charles M. Sheldon em 1896

-o periódico “For The Right” de Walter Rauschenbusch;

- o artigo “Interesses da Classe Trabalhadora” com participação de Walter Rauschenbusch;

-“The Social Principles of Jesus” influenciado pelos pensamentos de Walter Rauschenbusch;

-“Cristianismo e a Crise Social” em 1907, “Teologia do Evangelho Social” em 1918, “Prayers of the Social Awakening” e “Cristianismo e Ordem Social” de Walter Rauschenbusch;

-Hinos do Evangelho Social muito difundidos nos EUA;

-Outras publicações e estudos científicos contribuindo para informações completas que considerassem os problemas sociais e despertando a Igreja para incluir estas questões em seus programas de educação religiosa e teológica;

-além destes, muitos pronunciamentos eclesiásticos de várias igrejas e líderes cristãos com propostas a respeito de questões sociais;

-diversos estudos sobre o papel da Igreja em relação ao processo legislativo e dos problemas de ordem política e econômica estão acontecendo atualmente.

Com o Evangelho Social a Igreja foi transformada em uma agência social unindo forças com outras organizações em prol da comunidade saindo de si mesmas em direção ao mundo e priorizando aqueles que sofrem de modo a corrigir os erros deixados pelo sistema social. A união entre igrejas através do ecumenismo bem como com outras instituições sociais e a formação de novo órgãos com estes objetivos foram ações relevantes.

Instituições importantes que participaram do Evangelho Social:

-Igreja Anglicana e outras igrejas livres influenciadas pelo movimento britânico “cristãos socialistas” a parti de 1848;

-Igreja Católica através dos Papas Leão XIII e Pio XI promovendo atividades religiosas pela reforma social;

-Organizações trabalhistas nos Estados Unidos por volta de 1898;

-Aliança Evangélica que depois mudou para Federação Nacional de Igrejas e Obreiros Cristãos e posteriormente Conselho Federal das Igrejas de Cristo na América;

-Associação Cristã de Moços que publicou “The Social Principles of Jesus” em 1916;

-Outros seguimentos evangélicos como The College Voluntary Study Courses, The Sunday School Council o Evangelical Denominations, The Committee on Curriculum Board of Sunday Schools Methodist Episcopal Church.

-Igrejas presbiterianas, metodistas, episcopais, congregacionais e batistas;

-outras organizações eclesiásticas como “Igreja dos Trabalhadores”.

Além destes, os ministérios dentro das igrejas locais começaram a se organizar para ações voltadas para a comunidade ao redor. Os seminários teológicos reorganizaram seus currículos e atividades incluindo estudos e práticas sociais. Diversos líderes também se especializaram em estudos ou se dedicaram integralmente à ação social.

A grande contribuição do Evangelho Social foi uma mudança no pensamento cristão antes espiritualizado para uma prática maior do amor evitando intimismo e buscando o bem comum. O povo cristão deixou de olhar para o céu individualmente e começou a olhar para a terra coletivamente.


[1] Hegelianismo é uma corrente filosófica desenvolvida por Georg Wilhelm Friedrich Hegel que pode ser sintetizada por sua  frase "o racional por si só é real", que significa que a realidade é capaz de ser expressa em categorias reais. (extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Hegelianismo às 12h31min de 20/06/09).

   

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