MORIN, Émile. JESUS E AS ESTRUTURAS
DE SEU TEMPO. 4º ed. São Paulo: Paulinas, 1998.
No livro “JESUS E AS
ESTRUTURAS DE SEU TEMPO”, o autor Émile Morin trabalha uma nova visão do
ministério de Cristo mostrando que Ele se inseriu em uma sociedade e de acordo
com as situações deste amplo contexto, pautava suas palavras, ações e reações.
Ele conhecia as esperanças, frustrações e necessidades do povo da época. De
forma interessante, uma análise exegeta acontece onde cada documento ou
evangelho é apontado diante do contexto social, mostrando o mesmo fato de
maneira peculiar à linguagem do autor e a época que o texto foi escrito,
mostrando sua formação e transformações.
Referir-se a Cristo como
“ACONTECEIMENTO-JESUS” indica o homem-DEUS de forma histórica e marcante. Só é
possível entender a vontade de Jesus para os dias atuais ao analisar suas
práticas de acordo com a cultura, tempo e lugar que viveu. Assim o autor
trabalha diversas estruturas da sociedade judaica no tempo de Jesus.
As estruturas econômicas da palestina eram bem
diferentes. As propriedades só eram herdadas pelos homens e deviam permanecer
sempre dentro de um mesmo clã. Cultivavam cereais, frutas e legumes; criavam
gado e aves, tendo também a pesca em grande importância econômica. Muitos
trabalhavam como artesãos em pequenas indústrias ou cooperativas familiares que
chegavam a exportar. ‘Os ofícios eram hereditários’ (p.29). Também o templo era
um lugar de importância comercial devido ao grande número de peregrinos que
precisavam de mantimento. O transporte era marítimo e terrestre, sendo o
jumento o veículo mais usado.
A
moeda corrente era de prata, ouro e bronze e por isso devia se pesada para
evitar fraudes. Em Jerusalém o comércio era mais forte nos grandes mercados ou
feiras. Os ricos eram apenas os grandes proprietários de terras, negociantes e
a coorte romana. O povo pagava muitos impostos ao império, ao Templo e também
deviam dar esmolas. Havia muitos mendigos, escravos e pessoas em situação de
pobreza.
O autor
trabalha o contesto socioeconômico da palestina em contraste ao
ACONTECIMENTO-JESUS, analisando o fato (texto) do encontro de Jesus com o jovem rico, onde o mestre, frente a tantas
desigualdades sociais ensina a prática do que a lei ordenava: o amor. A melhor
forma de amar alguém numa época onde não existiam instituições de apoio social
e o governo não se interessava pelos pobres, era dar esmolas. Por isso Jesus
pediu-o para doar tudo o que tinha.
Jesus viveu em uma família. Teve pai, mãe e irmãos,
por isso sabia como as coisas funcionavam dentro de uma casa. A mulher era
marginalizada e o casamento lhe impunha pesadas responsabilidades. A questão do
repúdio era injusta. E as crianças mantidas no anonimato. Cristo deu resposta a
todas as injustiças sociais e começou dentro dos lares.
Na
sociedade judaica tudo se distinguia segundo os padrões de pureza ou impureza,
até mesmo entre as profissões havia acepção entre impura ou não. A hierarquia
social partia de seu todo dos sacerdotes, levitas até aos escravos pagãos e os
samaritanos na sua base. Isso determinava tudo em todos os lugares. O templo
era o lugar mais puro que tinham, porém dentro dele havia separações só
permitidas de acordo com o nível de pureza do cultuante. As refeições
comunitárias judaicas eram basicamente cultuais, para comer deviam fazer
rituais de purificação e não podiam comer com impuros.
Jesus
confrontou toda essa estrutura mostrando uma pureza interior e não apenas
cerimonial. Comeu com pecadores, multiplicou pães e serviu-os, purificou o
templo de sua maior impureza: a avareza. E desprezou a hierarquia judaica
mostrando o livre aceso do homem ao Deus Pai.
Cada estrutura
da sociedade está ligada ao poder ou busca o mesmo. Na sociedade judaica a ordem
fiscal estabelecia os impostos romanos cobrados pelo império e os impostos
judeus cobrados no templo. A ordem pública era mantida pela polícia
judia e os protegia de invasores pelas legiões romanas. O direito e a
justiça contavam com a lei (Torá)
seguida pelos judeus e assessorada pelo sinédrio e tribunais romanos
para o cumprimento da justiça.
Havia uma luta pelo poder. Por um lado
quem mandava era Cézar, mas o povo obedecia ao sinédrio composto de sacerdotes
saduceus e fariseus, então estes precisavam controlar a massa para permanecer
no poder.
Os grupos
partidários judeus baseavam suas posições em aspectos religiosos e políticos.
Os saduceus em sua maioria eram
sacerdotes, não criam em anjos nem em espírito; parece que eram coniventes com
o império para seu próprio bem. Os fariseus eram em grande parte escribas
intérpretes da lei e influenciavam o povo contra o império. Os herodianos eram partidários da dinastia
de Herodes na Galiléia por terem se beneficiado através de seu governo e havia
também herodianos na Judéia. Os zelotas ou ‘zelosos’ foram um grupo que
se separou dos fariseus porque embora defendessem as mesmas idéias radicais,
esperavam vencer o império romano através da rebelião. Os essênios foram uma seita puritana por isso se isolavam do mundo em
mosteiros nas regiões desérticas. Diante destes partidos Jesus mostrou que o
verdadeiro poder vem de Deus e não dos homens.
A
religião em Israel era a base para qualquer estrutura. Toda estrutura religiosa
era voltada para o templo, onde acontecia o culto, sacrifícios e festas que
levavam milhares de peregrinos à Jerusalém. Contudo cada judeu praticava sua
piedade privada fazendo orações, citando o Shemá,
cantando e recitando salmos, fazendo jejuns e dando esmolas. Deus para aquele
povo era distante, supremo e santíssimo demais, devendo ser apenas temido por
todos.
Toda
ciência ou cultura era considerada com algum fundamento teológico. As escolas
primárias ensinavam as crianças a ler e escrever em hebraico e aramaico. Nas
escolas secundárias aprendiam a interpretar as escrituras. A sinagoga era o
lugar de aprender, onde também os livros da lei, profetas e históricos eram
lidos e explicados. Havia sinagogas onde houvesse um número considerável de
judeus que poderiam nela orar e aprender a lei mesmo sem ir ao Templo de
Jerusalém.
Os
escribas eram intérpretes da lei e muito estudados, sendo respeitados por isso.
Julgavam-se herdeiros a sabedoria de Deus e sucessores dos profetas. Seu poder
baseava-se no saber, com o qual podiam influenciar o povo. Já aqueles
desprovidos de estudo ou que exerciam profissões consideradas impuras, eram
marginalizados pela religião.
Jesus
mostra pra todos que o centro do culto é o coração e não o templo. O lugar de
ensinar para Cristo era na rua, montes e mares e não só na sinagoga. A fonte do
saber e do poder é Deus e não os escribas. Ninguém mais é separado de Deus a
quem Jesus ensina chamar de pai, mudando a visão distanciada da Divindade.
O livro
desperta a reflexão, questionamento e contextualização do Acontecimento-Jesus e
principalmente da Igreja que confessa seguir a Cristo nos dias de hoje com as
atuais estruturas.
Cristo
tinha os olhos atentos a tudo que acontecia a o seu redor, os ouvidos abertos a
cada palavra e o coração sensível ao sentimento das pessoas. Isso justifica
todos seus atos e palavras. Depois de viver cada estrutura de seu tempo
deixou-se entregar a elas para morrer e vencer através da ressurreição
mostrando um poder superior a qualquer outra força social. Por isso a igreja
primitiva teve forças para vencer as estruturas que a combatiam, pois
acreditavam que poderiam em Cristo vencer até a própria morte.
O livro:
Jesus e as estruturas de seu tempo, foi como uma ‘máquina do tempo’ levando o
leitor à sociedade do tempo de Cristo, fazendo-o entender que o Mestre não era
isolado e também trazendo Cristo à sociedade atual, através do entendimento de
que a Igreja, Corpo do Senhor deve conviver com as estruturas atuais, falar a
linguagem do povo e vencer todas as forças de morte pelo poder da
ressurreição.
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