Manto de Cristo - Lloyd C. Douglas

O Manto de Cristo é um romance histórico e religioso escrito por Lloyd C. Douglas , publicado originalmente em 1942. A obra gira em torno de Marcellus Gallio , um jovem centurião romano que  por punição política, é enviado à Palestina. Lá, ele participa da crucificação de Jesus e, por acaso, ganha sua túnica em um jogo de dados. A partir desse momento, Marcellus começa a sofrer crises emocionais e espirituais, sentindo-se profundamente perturbado pelo que presenciou e pelo estranho poder que o manto parece exercer sobre ele. Enquanto Marcellus tenta compreender o significado do manto e lida com uma crescente crise de fé e identidade. Ao longo do caminho, ele encontra personagens marcantes e é confrontado com os valores do cristianismo nascente, em contraste com os costumes decadentes do Império Romano. Movido por uma inquietação crescente, ele parte em uma jornada para descobrir quem foi Jesus. Ao lado de seu escravo e amigo Demétrio , Marcellus encontra discípulos e se...

Jesus e as Estruturas de seu tempo

émile morin

MORIN, Émile. JESUS E AS ESTRUTURAS DE SEU TEMPO. 4º ed. São Paulo: Paulinas, 1998.

No livro “JESUS E AS ESTRUTURAS DE SEU TEMPO”, o autor Émile Morin trabalha uma nova visão do ministério de Cristo mostrando que Ele se inseriu em uma sociedade e de acordo com as situações deste amplo contexto, pautava suas palavras, ações e reações. Ele conhecia as esperanças, frustrações e necessidades do povo da época. De forma interessante, uma análise exegeta acontece onde cada documento ou evangelho é apontado diante do contexto social, mostrando o mesmo fato de maneira peculiar à linguagem do autor e a época que o texto foi escrito, mostrando sua formação e transformações.
Referir-se a Cristo como “ACONTECEIMENTO-JESUS” indica o homem-DEUS de forma histórica e marcante. Só é possível entender a vontade de Jesus para os dias atuais ao analisar suas práticas de acordo com a cultura, tempo e lugar que viveu. Assim o autor trabalha diversas estruturas da sociedade judaica no tempo de Jesus.
As estruturas econômicas da palestina eram bem diferentes. As propriedades só eram herdadas pelos homens e deviam permanecer sempre dentro de um mesmo clã. Cultivavam cereais, frutas e legumes; criavam gado e aves, tendo também a pesca em grande importância econômica. Muitos trabalhavam como artesãos em pequenas indústrias ou cooperativas familiares que chegavam a exportar. ‘Os ofícios eram hereditários’ (p.29). Também o templo era um lugar de importância comercial devido ao grande número de peregrinos que precisavam de mantimento. O transporte era marítimo e terrestre, sendo o jumento o veículo mais usado.
A moeda corrente era de prata, ouro e bronze e por isso devia se pesada para evitar fraudes. Em Jerusalém o comércio era mais forte nos grandes mercados ou feiras. Os ricos eram apenas os grandes proprietários de terras, negociantes e a coorte romana. O povo pagava muitos impostos ao império, ao Templo e também deviam dar esmolas. Havia muitos mendigos, escravos e pessoas em situação de pobreza.
O autor trabalha o contesto socioeconômico da palestina em contraste ao ACONTECIMENTO-JESUS, analisando o fato (texto) do encontro de Jesus com o jovem rico, onde o mestre, frente a tantas desigualdades sociais ensina a prática do que a lei ordenava: o amor. A melhor forma de amar alguém numa época onde não existiam instituições de apoio social e o governo não se interessava pelos pobres, era dar esmolas. Por isso Jesus pediu-o para doar tudo o que tinha.
Jesus  viveu em uma família. Teve pai, mãe e irmãos, por isso sabia como as coisas funcionavam dentro de uma casa. A mulher era marginalizada e o casamento lhe impunha pesadas responsabilidades. A questão do repúdio era injusta. E as crianças mantidas no anonimato. Cristo deu resposta a todas as injustiças sociais e começou dentro dos lares.
Na sociedade judaica tudo se distinguia segundo os padrões de pureza ou impureza, até mesmo entre as profissões havia acepção entre impura ou não. A hierarquia social partia de seu todo dos sacerdotes, levitas até aos escravos pagãos e os samaritanos na sua base. Isso determinava tudo em todos os lugares. O templo era o lugar mais puro que tinham, porém dentro dele havia separações só permitidas de acordo com o nível de pureza do cultuante. As refeições comunitárias judaicas eram basicamente cultuais, para comer deviam fazer rituais de purificação e não podiam comer com impuros.
Jesus confrontou toda essa estrutura mostrando uma pureza interior e não apenas cerimonial. Comeu com pecadores, multiplicou pães e serviu-os, purificou o templo de sua maior impureza: a avareza. E desprezou a hierarquia judaica mostrando o livre aceso do homem ao Deus Pai.
Cada estrutura da sociedade está ligada ao poder ou busca o mesmo. Na sociedade judaica a ordem fiscal estabelecia os impostos romanos cobrados pelo império e os impostos judeus cobrados no templo. A ordem pública era mantida pela polícia judia e os protegia de invasores pelas legiões romanas. O direito e a justiça contavam com a lei (Torá)  seguida pelos judeus e assessorada pelo sinédrio e tribunais romanos para o cumprimento da justiça.
Havia uma luta pelo poder. Por um lado quem mandava era Cézar, mas o povo obedecia ao sinédrio composto de sacerdotes saduceus e fariseus, então estes precisavam controlar a massa para permanecer no poder.
Os grupos partidários judeus baseavam suas posições em aspectos religiosos e políticos. Os saduceus em sua maioria eram sacerdotes, não criam em anjos nem em espírito; parece que eram coniventes com o império para seu próprio bem.  Os fariseus eram em grande parte escribas intérpretes da lei e influenciavam o povo contra o império. Os herodianos eram partidários da dinastia de Herodes na Galiléia por terem se beneficiado através de seu governo e havia também herodianos na Judéia.  Os zelotas ou ‘zelosos’ foram um grupo que se separou dos fariseus porque embora defendessem as mesmas idéias radicais, esperavam vencer o império romano através da rebelião. Os essênios foram uma seita puritana por isso se isolavam do mundo em mosteiros nas regiões desérticas. Diante destes partidos Jesus mostrou que o verdadeiro poder vem de Deus e não dos homens.
A religião em Israel era a base para qualquer estrutura. Toda estrutura religiosa era voltada para o templo, onde acontecia o culto, sacrifícios e festas que levavam milhares de peregrinos à Jerusalém. Contudo cada judeu praticava sua piedade privada fazendo orações, citando o Shemá, cantando e recitando salmos, fazendo jejuns e dando esmolas. Deus para aquele povo era distante, supremo e santíssimo demais, devendo ser apenas temido por todos.
Toda ciência ou cultura era considerada com algum fundamento teológico. As escolas primárias ensinavam as crianças a ler e escrever em hebraico e aramaico. Nas escolas secundárias aprendiam a interpretar as escrituras. A sinagoga era o lugar de aprender, onde também os livros da lei, profetas e históricos eram lidos e explicados. Havia sinagogas onde houvesse um número considerável de judeus que poderiam nela orar e aprender a lei mesmo sem ir ao Templo de Jerusalém.
Os escribas eram intérpretes da lei e muito estudados, sendo respeitados por isso. Julgavam-se herdeiros a sabedoria de Deus e sucessores dos profetas. Seu poder baseava-se no saber, com o qual podiam influenciar o povo. Já aqueles desprovidos de estudo ou que exerciam profissões consideradas impuras, eram marginalizados pela religião.
Jesus mostra pra todos que o centro do culto é o coração e não o templo. O lugar de ensinar para Cristo era na rua, montes e mares e não só na sinagoga. A fonte do saber e do poder é Deus e não os escribas. Ninguém mais é separado de Deus a quem Jesus ensina chamar de pai, mudando a visão distanciada da Divindade.
O livro desperta a reflexão, questionamento e contextualização do Acontecimento-Jesus e principalmente da Igreja que confessa seguir a Cristo nos dias de hoje com as atuais estruturas.
Cristo tinha os olhos atentos a tudo que acontecia a o seu redor, os ouvidos abertos a cada palavra e o coração sensível ao sentimento das pessoas. Isso justifica todos seus atos e palavras. Depois de viver cada estrutura de seu tempo deixou-se entregar a elas para morrer e vencer através da ressurreição mostrando um poder superior a qualquer outra força social. Por isso a igreja primitiva teve forças para vencer as estruturas que a combatiam, pois acreditavam que poderiam em Cristo vencer até a própria morte.
O livro: Jesus e as estruturas de seu tempo, foi como uma ‘máquina do tempo’ levando o leitor à sociedade do tempo de Cristo, fazendo-o entender que o Mestre não era isolado e também trazendo Cristo à sociedade atual, através do entendimento de que a Igreja, Corpo do Senhor deve conviver com as estruturas atuais, falar a linguagem do povo e vencer todas as forças de morte pelo poder da ressurreição.    


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