Manto de Cristo - Lloyd C. Douglas

O Manto de Cristo é um romance histórico e religioso escrito por Lloyd C. Douglas , publicado originalmente em 1942. A obra gira em torno de Marcellus Gallio , um jovem centurião romano que  por punição política, é enviado à Palestina. Lá, ele participa da crucificação de Jesus e, por acaso, ganha sua túnica em um jogo de dados. A partir desse momento, Marcellus começa a sofrer crises emocionais e espirituais, sentindo-se profundamente perturbado pelo que presenciou e pelo estranho poder que o manto parece exercer sobre ele. Enquanto Marcellus tenta compreender o significado do manto e lida com uma crescente crise de fé e identidade. Ao longo do caminho, ele encontra personagens marcantes e é confrontado com os valores do cristianismo nascente, em contraste com os costumes decadentes do Império Romano. Movido por uma inquietação crescente, ele parte em uma jornada para descobrir quem foi Jesus. Ao lado de seu escravo e amigo Demétrio , Marcellus encontra discípulos e se...

A ESPERANÇA CRISTÃ ALÉM DA MORTE

mãos segurando planta simbolizando esperança

Desde o gênese a palavra ‘bom’ é repetida diversas vezes na descrição da criação para demonstrar que Deus criou tudo com perfeição e justiça. Junto com o surgimento do estado entram em cena os profetas que eram como representantes do povo para protestar contra os erros do rei, falando em nome da esperança de um dia futuro para Deus cumprir sua justiça. Estes profetas foram martirizados e com a decadência do estado\monarquia, o profetismo se encerra. A partir de então é que as comunidades começaram a criar textos apocalípticos com enigmas que só o grupo conhecia para falarem do que não concordavam não correndo o risco de serem descobertos pelas autoridades. 

Para o autor Martinus de Bôer [1], a apocalíptica judaica sua influenciou o conceito escatológico do Novo Testamento e consequentemente a escatologia cristã atual. Quando Jesus veio, desejava cumprir toda a justiça e não ser parcialmente justo como o homem. Jesus sabia que “o dia do Senhor” havia chegado e que Ele era o servo enviado de Deus não apenas para pregar, mas anunciar a esperança criada por Deus. 

O conceito de Jesus sobre esperança era prático. O contexto era de injustiça e opressão. Jesus trazia alívio aos marginalizados através de suas palavras sobre de paz. Defendia e libertava os oprimidos dando a todos esperança de uma vida melhor. Jesus institui um novo tempo, o Reino de Deus, diferente do reino humano, que segundo o autor Sebastián Politi [2], significava para o próprio Jesus a sua morte e ressurreição como consumação do propósito Divino dando esperança de vida eterna e posteriormente a Igreja primitiva reinterpretou o significado das palavras de Jesus em textos apocalípticos. 

O professor Western Clay Peixoto [3], traz um interessante estudo sobre os apocalipses afirmando que apocalipse é uma “leitura da história em tempos difíceis”. Em toda a história da humanidade e da Igreja as mensagens apocalípticas aparecem em tempos difíceis como um protesto contra o mau, consolo e esperança na justiça divina, para os desfavorecidos. 

Os apocalipses foram escritos por pessoas do povo que tinham conhecimento da realidade dos problemas presentes na sociedade. A partir da linguagem codificada que havia nas comunidades era escrito o livro que servia para revelar o mau que acontecia instruindo o povo sem atingir diretamente os dominadores. Baseados em visões falavam das verdades, usando histórias com dualismos trocando os nomes dos personagens e usando símbolos para os acontecimentos. 

A mensagem dos apocalipses era primeiramente falada e depois pregada nas comunidades e então, escritas por estes, que entendiam bem do que se tratava pois a mensagem, embora em símbolos, estava presente entre eles e isto lhes abria os olhos para ver a verdade. 

Os textos apocalípticos conhecidos foram escritos entre os anos 400 a.C e 200 d.C., período em que os judeus e posteriormente os cristãos viveram sob dominação política e cultural dos persas, gregos e romanos. Os povos dominados eram massacrados pelos impérios e como distração para não terem oportunidade de se organizar e rebelar, recebiam liberdade moral e religiosa, circos, olimpíadas, espetáculos e teatro. Tanto judeus como cristãos eram organizados, não aceitavam dominação nem participavam das festas, por isso eram os principais alvos das perseguições. Tudo isto influenciou a linguagem dos escritos que tinha a finalidade de edificar e ensinar a esperança em meio às tribulações. 

Sobre a escatologia bíblica o professor Helmut Renders orienta que não existe apenas um pensamento escatológico, há uma escato-divrersidade e quanto à ação cristã recomenda: “O papel central dos diversos textos escatológicos é “manter a esperança” e possibilitar uma ação adequada diante de desafios distintos. Quanto ao pessimismo humano, a esperança manteve o seu realismo, mas frisa que Deus opera na história e desafia a alienação e o comodismo. Quanto ao otimismo a-crítico, a esperança acentua o senso crítico e um olhar a partir das vítimas. Somente nessa combinação não se perde o horizonte utópico da esperança cristã.”[4]

A maior esperança anunciada na Bíblia é a vitória sobre o maior problema do homem: a morte. Cristo ressuscitou e mostrou o seu poder sobre a morte. Da mesma forma que é difícil explicar a ressurreição hoje, era difícil para os discípulos entender, mesmo tendo todas as profecias e explicações de Cristo relatadas no Novo Testamento. A chave para compreender a ressurreição é a fé no Deus que criou a vida e pode concedê-la novamente.

Embora avisados sobre o terceiro dia, os discípulos ficaram confusos depois da morte de Jesus, até que o Senhor lhes apareceu ressurreto. Dois discípulos caminharam discutindo sobre a morte de Jesus, tentando entender qual o propósito divino nisto, então Cristo aparece sem saberem quem era e Ele mesmo lhes explica as dúvidas. Quando estes dois discípulos puderam olhar com os olhos da fé, vêm o Mestre diante deles.

Da mesma forma a cristandade tem caminhado discutindo sobre a fé e a ressurreição de Jesus Cristo, mas a certeza vem quando o caminho é surpreendida pela presença do Senhor que esclarece tudo. É nessa caminhada, nesse diálogo com Deus, no “arder do coração”, no “partir do pão” e no “abrir dos olhos” que se pode saber que Deus está bem mais próximo do que se imagina.



[1] BOER, Martinus de. A influência da apocalíptica judaica nas origens do cristianismo: gênero, cosmovisão e movimento social e: Escatologia apocalíptica judaica e o Novo Testamento. IN: Apocalíptica e as origens cristãs. Revista Estudos de Religião, ano XIV, nº 19, UMESP: São Bernardo do Campo, 2000. p. 11-24 e 85-104 (dois artigos do autor que falam sobre o tema).

[2] POLITI, Sebastián., História e esperança: a escatologia cristã. Tradução: Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Paulinas, 1993; p.113-134.

[3] PEIXOTO, Western Clay, Para Ler os Apocalipses, 1992, Belo Horizonte, 61 págs.

[4] RENDERS, Helmut. A sinfonia da Esperança: a importância da escato-diversidade para uma pastoral da esperança. Caminhando, ano IX, n. 14, 2 sem. 2004, p.42.

   

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