Prega a Palavra de Karl Lachler

Confira o livro Prega a Palavra de Karl Lachler na Amazon Karl Lachler  é um autor que desempenhou um papel significativo no cenário religioso brasileiro.  Foi missionário durante   32 anos   no Brasil. Ele colaborou na implantação de igrejas, incluindo a   Primeira Igreja Batista de Fernandópolis   e a   Segunda Igreja Batista de São José do Rio Preto .   Além disso, ele foi um dos pastores fundadores da   Primeira Igreja Batista de Atibaia.   Lachler também lecionou na   Faculdade Teológica Batista de São Paulo   por   18 anos . Seu compromisso com a pregação expositiva e o ensino da Palavra de Deus é evidente em sua obra. Um de seus livros notáveis é   “ Prega a Palavra: Passos Para a Pregação Expositiva ” .   Neste livro, ele oferece orientações valiosas sobre como pregar a Palavra de Deus de forma eficaz, destacando a importância da pregação expositiva e fornecendo uma metodologia prática para os pregadores . Este livro é uma obra útil para seminaristas, iniciantes no ministério

Ética da Esperança: Jürgen Moltmann

Teologia da Esperança: Jürgen Moltmann

A Ética da Esperança de Jürgen Moltmann publicada em 1964, um texto em perspectiva histórica resumindo seu texto original e depois apresentando os aspectos relevantes de sua teologia para o pensamento teológico mundial.

Moltmann declara a influência que recebeu do filósofo neo-marxista Ernest Bloch com seu texto “Princípio Esperança” e a dívida à teologia holandesa do apostolado. Além disso, estudou sobre a teologia dialética de Karl Barth. A Teologia da Esperança representou uma verdadeira revolução com característica teológico-pastoral que influenciou outros segmentos como a teologia da libertação latino-americana.

A grande mudança da obra de Moltmann para a teologia sistemática foi que a escatologia antes colocada no fim de suas disciplinas passou a ser a essência do estudo teológico em geral. Para a teologia dogmática até então a escatologia anunciava o fim da história e a partir da nova compreensão de Moltmann passou a ser a continuidade e futuro histórico com sentimento de esperança. A proposta da Teologia da Esperança é uma nova hermenêutica focada no futuro e uma práxis ética eclesiástica como esperança para os problemas presentes.

A obra fundante de Moltmann falando sobre cada um de seus cinco capítulos e aparentemente em duas partes. A primeira são os três capítulos iniciais com ênfase escatológica e a segunda parte são os dois últimos capítulos com destaque mais antropológico. O primeiro capítulo Moltmann trabalha a mudança do conceito de “eterno presente” para a revelação como promessa futura. No segundo capítulo volta à história do êxodo para mostrar a intervenção divina na história humana ensinando a olhar par o futuro. O terceiro capítulo fala da novidade de Cristo na ressurreição dando esperança até mesmo para a morte. O quarto capítulo é um estudo escatológico e hermenêutico da história anunciando não o fim desta, mas o progresso em direção ao futuro. E o último capítulo fala da Igreja e seu convívio social como geradora de esperança escatológica.

O olhar para o futuro parece ser os óculos de Moltmann. Sua cristologia é essencialmente escatológica. A dialética da cruz na morte e ressurreição é interpretada no sentido máximo não havendo a partir de então limites para a esperança. Em Cristo até para a morte há esperança porque Ele ressuscita os mortos.

A eclesiologia da esperança deve ser voltada para o serviço à vida buscando o “ressuscitar mortos” na sociedade. A igreja deve trabalhar pelo bem comum e sua função é em primeiro lugar levar o conhecimento de uma subjetividade transcendental que leve os cristãos a entender o futuro universal de Deus para a humanidade e em segundo lugar a transcendência no encontro com o próximo enquanto comunidade.

A hermenêutica bíblica até então trabalhava questões como a prova da existência de Deus por três tipos básicos de argumentação:

Existencial: Deus é conhecido pelo ser humano no seu contexto existencial e histórico pessoalmente.

Cosmológica: Deus deve ser entendido a partir de um estudo completo da história universal de toda a humanidade.

Ontológico: Deus só pode ser conhecido por Deus mesmo e a história tem sentido querigmático de Deus para a humanidade.

A partir da Teologia da Esperança a hermenêutica bíblica passou a entender a revelação em sentido amplo. Deus é conhecido tanto existencialmente, como de formas cosmológica e ontológica ao se manifestar em tudo e em todos para dar esperança. O relacionamento com Deus antes frustrado pelo reconhecimento condenatório do pecado e dos males sociais, ganha aceitação com oportunidade para um recomeço.

A leitura histórica também mudou. Ao invés de olhar para o passado de forma negativa vendo os erros da humanidade e desacreditando no presente e no futuro. “Todo saber torna-se um saber de esperança” em solidariedade com o passado e sonhando com o futuro. Moltmann chama para um novo êxodo para libertação de vidas que estão escravas no mal. As instituições devem ser utilizadas para potencializar vidas para o estabelecimento do Reino de Deus.

O problema do futuro humano é considerado o único problema da teologia e do próprio ser humano. Mas o que é o futuro para Moltmann?  Futuro parece ser o presente com a presença de Cristo num olhar de esperança escatológica universal. O futuro vem pela manifestação de Deus à humanidade e esta pode trazer o futuro para o presente ao exteriorizar o compromisso com o amor ao próximo.

O autor avalia a contribuição da Teologia da Esperança para a Teologia Sistemática baseado no pensamento de Thimotheus Rast em seu Balanço da Teologia do Século X:

Diferenças e transformações na Teologia Sistemática no século XX

Dogmática tradicional

Teologia da Esperança

1

A escatologia como último tratado da dogmática;

A escatologia passa a ter sentido fundamental para toda a teologia;

2

A escatologia apenas futurística;

A escatologia está no presente através de Cristo;

3

Escatologia de essência;

Escatologia da existência contemplando toda a natureza;

4

Ênfase escatológica eventos, fatos ou lugares;

Ênfase escatológica na pessoa de Cristo (escatologia cristológica);

5

Insegurança com respeito à salvação;

Confiança em Deus como único Juiz e conhecedor do destino humano que julgará com justiça;

6

Conceito de salvação individual;

Conceito de salvação da escatologia universal;

7

Conformismo com o presente e espera tímida pelo futuro com a interrupção da história.

Motivação a agir atualmente em favor do futuro com todas as instituições para o bem comum.

 

Alguns autores influenciados pela Teologia da Esperança:

- João Batista Libânio: “o cristianismo “é total e visceralmente escatologia””

- Gustavo Gutiérrez: “a perspectiva escatológica atual... é marcada por uma incidência clara e enérgica sobre o político, assim como sobre a práxis social”

- Rubem Alves destaca a importância do pensamento de Moltman embora com algumas críticas, assume muitos conceitos da Teologia da Esperança.

- José Miguez Bonino: “a história é o ‘sacramento da ética cristã, não apenas o seu material’;

- René Lauentin valoriza o trabalho de Moltmann por um cristianismo comprometido com os problemas temporais;

- Heins Zahrnt destaca a valorização do futuro na Teologia da Esperança como dimensão essencial para a fé cristã;

- David Scaer reconhece o trabalho de Moltmann por restaurar o lugar correto da escatologia e sua função como chave para entender a teologia em sua totalidade.

Além do texto Teologia da Esperança Moltmann também escreveu outro contemporâneo a este chamado Deus na Revolução onde não trata a escatologia de modo tão transcendentalista considerando de modo otimista o futuro da consciência moderna. O texto é escrito na dialética histórica presente-futuro onde o próprio ser humano pode transformar a ordem social por ele estabelecida mesmo que já tenha fracassado.

Numa avaliação crítica da Teologia da Esperança existem alguns problemas na obra de Moltmann:

- seu exclusivismo confessional revelado no sentido querigmático de seu ensino inspirado em Barth;

- seu entusiasmo positivista na “paixão pelo possível” deixando de avaliar pontos negativos na história;

- a falta do envolvimento humano no processo esperando somente um evento cristológico para a restauração da humanidade;

- a espera pelo futuro que dá esperança solidária ao povo, mas é passiva dependendo somente da obediência até que Deus recrie todas as coisas;

- uma linguagem escatológica que “nega a realidade presente de modo radical” esperando somente na ressurreição de Cristo como argumento da esperança;

- falta mais argumento histórico e humanista e excesso de argumentação bíblica e espiritual que só pode ser aceita pela fé;

- forte expectativa na missão dos cristãos principalmente na pregação e excluindo a participação do restante do mundo;

- rejeição ao apoio de outras ciências além da teologia como a filosofia histórica e da antropologia filosófica;

- uma transcendência que coloca Deus fora da esfera histórica, terrena ou humana por ser pecaminosa;

- uma negação do passado ignorando também o presente e esperando somente no futuro;

- o papel da igreja passa a ser além de humanizar as pessoas pela pregação bíblica, perceber o possível e o futuro na história;

Moltmann, quanto à ação de Deus sobre a história acreditando que Deus age através da humanidade em sua história com suas estruturas racionais e lógicas da mente. Cita como exemplo a encarnação de Jesus que veio e se inseriu na humanidade assumindo papel histórico para anunciar o futuro de Deus. Para o autor uma teologia que não parte da realidade por pior que seja pode gerar esperança, mas também pode causar frustração. Por isso prefere assumir a escatologia do ‘já’ e ‘ainda não’ ao invés do tudo ou nada em relação à ação de Deus na história.

Segundo o pensamento de outros autores como de Gutierrez que afirma ser perigoso fazer uma teologia que não tenha à frente a realidade. Kar Rahner observa que a apocalíptica desvaloriza o tempo e a história, já a escatologia reafirma a ação de Deus com participação humana na história. Ernest Bloch fala da transformação do mundo a partir da percepção do horizonte das possibilidades. Paul Tillich acredita que a própria história se dirige para a realização escatológica com vitória sobre a morte e o ‘ser’ é potencializado pela capacidade de transcender a realidade através da práxis cristã.

Concluindo, é possível fazer um balanço crítico sem querer chegar a uma conclusão porque somente com o tempo seria possível fazer isso. Indica três passos para o estudo da teologia: primeiro verificar que futuro tiveram as instituições que assumiram a Teologia da Esperança e o próprio pensamento de Moltmann se pôde se manter frente as adversidades. Em segundo lugar comparar com outros teólogos que seguiram esta corrente como uma escola teológica. Em terceiro estudar sua influência sobre a teologia latino-americana.

Os escritos de Moltmann têm um aspecto prático pastoral claro e foram formados para falar à comunidade em que pastoreava. Seu pensamento permanece coerente e cresce de forma organizada em direção às necessidades do povo sempre numa perspectiva de esperança.

Sua obra O Deus crucificado de 1972 é uma continuação reparadora dos aspectos mal entendidos da Teologia da Esperança mantendo a mesma essência, contudo com direção mais trinitária. A tarefa política da igreja é esclarecida como uma função crítica contra os sistemas de crucificação e à favor dos ‘crucificados’ anunciando a estes a ressurreição da esperança.

Esta obra foi muito criticada por teólogos latino-americanos como Gutiérrez, Rubem Alves e principalmente Míguez-Bonino gerando tensão entre a teologia européia e latino-americana. Até então a teologia moderna ainda não tinha visto uma discussão aberta entre teólogos renomados principalmente quando parece até mesmo ser pessoal. Uma teologia que demonstra esperança de um lado e libertação de outro deve ter como mediador o amor que permite haver diferenças de opinião sem qualquer sentimento de rancor.

No texto Igreja na Força do Espírito de 1975 Moltmann faz um tratado de eclesiologia messiânica chamando a Igreja a refletir sobre a morte e ressurreição de Jesus como sentimento fundante de sua missão. Trata a Igreja e sua função do ponto de vista serviçal na política, economia e sociedade e também espiritualmente através dos sacramentos, da oração e pregação do evangelho. A Igreja assume posição mais ativa participando do reinado de Cristo lembrando-se do Cristo crucificado e anunciando esperança baseada na ressurreição. Quem sofre, ao ver o sofrimento de Cristo, tem esperança pela mensagem de sua ressurreição.

Houve um período entre 1975 e 1980 e depois numa segunda fase da carreira de Moltmann ele tenta sair um pouco da dogmática para um diálogo mais espontâneo visando apoiar pastores, professores e estudantes de teologia. As mudanças do pensamento de Moltmann não foram muito grandes embora tenha sido mais abrangente em seus temas abordados. 

Como prometido o balanço termina sem conclusão clara do texto embora tenha valorizado o trabalho da Teologia da Esperança e lamenta que já esteja sendo esquecida no passado desejando que seja reconstruída por seu valor prático e motivador da fé cristã. Sem dúvida alguma o legado teológico de Moltmann é marcante em sua geração principalmente por seu significado pastoral, ético e sociológico. Teve a habilidade de unir teologia e prática, ciência e piedade, mente e coração... “fé, esperança e amor, estes três, porém o maior deles é o amor” (I Coríntios 13.13).

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