Manto de Cristo - Lloyd C. Douglas

O Manto de Cristo é um romance histórico e religioso escrito por Lloyd C. Douglas , publicado originalmente em 1942. A obra gira em torno de Marcellus Gallio , um jovem centurião romano que  por punição política, é enviado à Palestina. Lá, ele participa da crucificação de Jesus e, por acaso, ganha sua túnica em um jogo de dados. A partir desse momento, Marcellus começa a sofrer crises emocionais e espirituais, sentindo-se profundamente perturbado pelo que presenciou e pelo estranho poder que o manto parece exercer sobre ele. Enquanto Marcellus tenta compreender o significado do manto e lida com uma crescente crise de fé e identidade. Ao longo do caminho, ele encontra personagens marcantes e é confrontado com os valores do cristianismo nascente, em contraste com os costumes decadentes do Império Romano. Movido por uma inquietação crescente, ele parte em uma jornada para descobrir quem foi Jesus. Ao lado de seu escravo e amigo Demétrio , Marcellus encontra discípulos e se...

SANTO ATANÁSIO – A encarnação do Verbo

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Santo Atanásio (a seguir: S.T.) nasceu em Alexandria em 295 e morreu depois de uma longa e conturbada existência nesta mesma Alexandria aos 2 de maio de 373. Foi um dos maiores e mais ilustres padres e doutores da igreja e o maior batalhador na defesa do Credo de Nicéia. Converteu-se ainda na juventude e aos dezessete anos foi escolhido pelo bispo Alexandre para ocupar o cargo de leitor. Em 318, aos 23 anos, torna-se diácono e secretário episcopal.
Nesta época, Alexandria tornara-se o foco incandescente da controvérsia ariana e S.T., apoiando seu bispo, se tornou o maior adversário de Ário (presbítero de uma importante igreja alexandrina), pois foi o campeão da tese da consubstancialidade do Pai e do Filho. Em 328, após a morte do bispo Alexandre, S.T. assume o cargo de bispo de Alexandria. Seus quarenta e seis anos de episcopado foram marcados por um período de grande conturbação na Igreja antiga, mas também por grandes obras apologéticas, dentre elas “A Encarnação do Verbo”.
A Encarnação do Verbo é uma obra aproximadamente do ano 335 ou 337. Possui 57 capítulos divididos em seis partes e no centro de sua história está a cruz e a ressurreição, que sublinha, contra judeus e pagãos, a fraqueza humana e a iniciativa divina do Verbo. Enquanto os arianos sustentavam que o Logos é uma criatura trazida à existência antes da criação do mundo, Atanásio ensinava que ele é plenamente divino e coeterno ao Pai. É, sem dúvida, sua obra mais original e significativa.
Na primeira parte (cap. 1 a 7), S.T. nos conduz aos antecedentes da encarnação do Verbo, observando e analisando a criação e queda do homem. Defende a criação do mundo a partir do nada, negando a ideia de anti matéria. Segundo S.T., é impossível falar de encarnação do Verbo sem tratar da origem do homem, visto que, o homem foi o motivo da encarnação e por sua salvação, o Verbo amou o homem até nascer e manifestar-se com um corpo. Então, ao longo deste bloco descreve a intenção do Verbo para livrar o corpo humano da corrupção e da morte.
A vitória sobre a morte e o dom da incorruptibilidade é o tema da segunda parte (cap. 8 a 10). Ao ver a situação do homem, o Verbo não quis apenas somente aparecer, mas tomou um corpo igual ao nosso, pois compreendeu que a corrupção dos homens de forma alguma poderia ser destruída, a não ser pela morte. Mas, era impossível que o verbo morresse sendo imortal. S.T. afirma que o Verbo assumiu corpo a fim de oferecê-lo em sacrifício em favor dos corpos semelhantes ao seu.
Em sequência, na terceira parte (cap. 11 a 16), S.T. demonstra a vontade de Deus na restauração humana. Percebemos em suas palavras a limitação do homem em conhecer o criador e sua loucura em desprezar a graça de Deus, o que resultou no afastamento e na corrupção total. Descreve então a missão do Verbo de Deus de recriar o homem segundo a imagem, sendo Imagem do Pai.
A parte quatro (cap. 17 a 32) se dedica em ressaltar o valor salvífico da encarnação do verbo. S.T. descreve neste bloco como o Verbo venceu a morte estando em um corpo mortal. Destaca que a ressurreição ocorre em um período de tempo perfeito, em que não deixa dúvida da morte, mas também não deixa possibilidade de contestar a vida. Com isso, observa S.T., que as pessoas em Cristo passam a desprezar a morte e a gozar da autoridade do nome de Jesus.
A partir deste ponto (cap. 33 a 40), S.T. destina suas palavras aos judeus e mais tarde aos gregos. Contra os judeus utiliza referências dos profetas, como Moisés e Isaías, em que se fala da morte de cruz do Verbo. Faz um importante paralelo com alguns personagens bíblicos, demonstrando as limitações deles e ressaltando a perfeição do Verbo. Argumenta com alguns milagres inéditos, característicos no ministério de Jesus, como a cura de doenças inatas, que não aconteceram em outra época. Mas, o principal argumento é que no período em que cessam os profetas, Jesus aparece.
S.T. encerra destinando sua última parte (cap. 41 a 57) aos gregos filósofos e idólatras. Inicia externando sua insatisfação contra a zombaria dos gregos e também a idolatria marcante em suas práticas. Não apresenta idéias novas, mas fortalece sua apologia ao se apossar de uma linguagem mais sistemática. Reforça a ideia da onipresença do Verbo, de que está dentro de um corpo, mas ao mesmo tempo em tudo. S.T. descreve que o homem possui um conhecimento equivocado de Deus e para permitir-se conhecer no todo, o Verbo se fez parte. Encerra seus escritos provocando os gregos dizendo que a sabedoria helênica enlouqueceu quando apareceu a sabedoria divina. 
A encarnação do Verbo é uma leitura muito interessante. Nos permite entender um pouco dos conflitos da época de S.T. e perceber seus esforços na defesa de um evangelho puro e genuíno. Que estas páginas nos tragam um olhar atento para nossa realidade e ajude a forjar em nós um caráter apologético de nossas práticas cristãs.

Por: FELIPE BAGLI SIQUEIRA
Trabalho apresentado ao Prof. Dr. José Carlos de Souza, com vistas à aprovação em disciplina. — 1º. Ano, Período Matutino, do Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista —Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo — setembro de 2010
Santo Atanásio / [introdução e notas: Roque Frangiotti; tradução: Orlando Tiago L. R. Mendes]. – São Paulo: Paulus, 2002. 366 p. – (Coleção Patrística – vol. 18).

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