FREIRE, Paulo.
Pedagogia do oprimido. 47. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2005. 213 p.
Em
“Pedagogia do oprimido”, Paulo
Freire, de uma forma técnica e ao mesmo tempo didática, nos apresenta uma
grande obra apontando novos rumos na pedagogia brasileira. Ao longo de suas 213
páginas e de seus quatro capítulos, Freire nos mostra a importância de uma
reflexão sobre a pedagogia no processo de educação, analisando e criticando a
pedagogia dominante, que é influenciada pela lógica capitalista. Em contra
partida, apresenta uma proposta de renovação no campo da pedagogia, baseado na
educação libertadora.
Para
Paulo Freire, o caminho da educação deve ser construído pela libertação de
pensamento e expressão. Para argumentação, constrói sua ideia através, do que classifica,
da relação opressores-oprimidos, expondo de uma forma clara e objetiva a complexidade
desta realidade vivenciada por nossa sociedade.
Segundo
Freire, o caminho a ser trilhado é a superação desta realidade, propondo,
através da conscientização dos oprimidos,
a libertação dos opressores. Para
Freire, se faz necessário que os oprimidos tomem consciência de sua situação,
para, a partir de então, lutarem por uma liberdade justa. Freire ainda adverte
sobre o perigo de os oprimidos, ao lutarem por uma “liberdade”, inverterem os
papéis na relação, passando assim a serem os opressores. Isto, segundo Freire,
não é a superação, mas sim um novo ciclo de opressores-oprimidos.
Atendendo
a exigências acadêmicas de avaliação, farei uma breve análise do capítulo um
desta grande obra: “Justificativa da pedagogia
do oprimido”. Dentro desta perspectiva, destaco a seguir alguns pontos
marcantes deste capítulo:
1) A
contradição opressores-oprimidos. Sua superação
Para
Paulo Freire, numa relação opressores-oprimidos, a tarefa de libertação é
responsabilidade dos oprimidos, isto porque, só o poder que nasça da debilidade
dos oprimidos será suficientemente forte para libertar a ambos. Segundo Freire,
a grande tarefa humanitária e histórica dos oprimidos é libertar-se a si e aos
opressores.
Freire
ressalta a necessidade de uma reflexão séria sobre esta superação, a fim de
evitar uma mera inversão de papéis na relação opressores-oprimidos, em que os
oprimidos passariam a opressores dos antigos opressores. É necessário portanto,
uma superação por completo, uma superação que vença esta relação e torne os
homens verdadeiramente livres.
O
autor ainda ressalta que o ponto de partida da superação é a conscientização.
Conscientizar os envolvidos sobre a posição de cada um na relação. Mas somente
isto não é necessário, pois tanto o oprimido descobrir-se na posição de
oprimido, quanto o opressor solidarizar-se pelo oprimido, não gera superação. É
necessário, segundo Freire, uma práxis libertadora, com atitude inicial
comandada pelos oprimidos. Por isto, é que somente os oprimidos, libertando-se,
podem libertar os opressores. Estes, enquanto classe que oprime, nem libertam,
nem se libertam.
Portanto,
neste bloco, Freire conclui ressaltando que a superação autêntica da
contradição opressores-oprimidos não está na pura troca de lugar, na passagem
de um polo e outro, mas sim na total extinção desta contradição.
2) A
situação concreta de opressão e os opressores
“Ser, para eles, é ter e ter como classe que tem.”. Com esta frase, Freire define bem
a posição do opressor na contradição apresentada. Neste bloco, dedica a
estabelecer algumas características do opressor, definindo-o de forma clara.
Segundo
Freire, os opressores entendem que pessoa humana são apenas eles, e os outros,
estes são “coisas”. Para eles, há um só direito – o seu direito de viverem em
paz, ante o direito de sobreviverem, que talvez nem sequer reconheçam, mas
somente admitam aos oprimidos. E isto ainda, porque, afinal, é preciso que os
oprimidos existam, para que eles existam e sejam “generosos”. Daí que tendam a
transformar todo o que os cerca em objetos de seu domínio.
Para
Paulo Freira, os opressores tem como objetivo final, o lucro. Isto, guiado por
uma ânsia irrefreada de posse. Por isto é que, segundo o autor, para os
opressores, o que vale é ter mais e
cada vez mais, à custa, inclusive, do ter
menos ou do nada ter dos
oprimidos. Ser, para eles, é ter e
ter como classe que tem.
Freire
ainda destaca sobre os opressores que, dizer-se comprometido com a libertação e
não ser capaz de comungar com o povo, a quem continua considerando
absolutamente ignorante, é um doloroso equívoco.
3) A
situação concreta de opressão e os oprimidos
Neste
bloco, Paulo Freire reflete sobre os oprimidos na relação. Destaca sobre a
importância de uma convivência com os oprimidos, sabendo-se um deles, para
compreender melhor as formas de ser e comportar-se dos oprimidos. Segundo
Freire, uma das formas de comportar-se dos oprimidos é a dualidade existencial,
em que o oprimido se torna “hospedeiro” do opressor, assumindo às vezes
atitudes fatalistas.
Outro
destaque de Freire sobre comportamento dos oprimidos é, o que ele classifica
como, uma irresistível atração pelo opressor, pelos seus padrões de vida. Na
sua alienação, segundo o autor, querem a todo custo, parecer com o opressor,
imitá-lo. Freire segue ainda destacando a autodesvalia também como uma
característica dos oprimidos, que resulta da introjeção que fazem eles da visão
que deles têm os opressores. Para Freire, de tanto ouvirem de si mesmos que são
incapazes, que não sabem nada, terminam por se convencer de sua “incapacidade”.
Falam de si como os que não sabem e do “doutor” como o que sabe e a quem devem
escutar.
Segundo o autor, dentro desta visão
inautêntica de si e do mundo, os oprimidos se sentem como se fossem uma quase
“coisa” possuída pelo opressor. Daí que os oprimidos sejam dependentes
emocionais.
4) Ninguém
liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão
Como
consequência da dependência emocional e total dos oprimidos, Paulo Freire
observa o surgimento de manifestações de destruição da vida, que são chamadas
necrófilas. Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e
se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos,
superando, assim, sua “convivência” com o regime opressor.
Para
Freire, os oprimidos, nos vários momentos de sua libertação, precisam
reconhecer-se como homens, na sua vocação ontológica e histórica de ser mais. Defende um permanente esforço
de reflexão dos oprimidos sobre suas condições concretas, que deve desembocar
em uma prática eficiente. O autor ainda ressalta a necessidade de que creiamos
nos homens oprimidos, que os vejamos capazes de pensar certo também.
A
ideia chave deste bloco é que não podemos esquecer que a libertação dos
oprimidos é libertação dos oprimidos é a libertação de homens e não de
“coisas”. Por isto, se não é autolibertação (ninguém se liberta sozinho),
também não é libertação de uns feita por outros. Para Freire, precisamos estar
convencidos de que o convencimento dos oprimidos de que devem lutar por sua
libertação não é doação que lhes faça a liderança revolucionária, mas resultado
de sua conscientização.
Em
um curso de teologia é de grande importância leituras como essa. Sem dúvida
alguma, esta obra oferece grandes contribuições para aqueles que dedicarem
algumas horas à estas páginas. Estudar sobre formas de educação certamente é
algo indispensável para um acadêmico de teologia, pois nos traz importantes apontamentos
sobre nosso futuro. Posso afirmar que com este conteúdo nossa percepção crítica
se tornará mais eficiente. Entendo que no meio pastoral, lidando com pessoas, é
extremamente importante uma apurada capacidade de percepção, isto porque o
pastor com esta habilidade tem maiores chances de ajudar as pessoas a se
conhecerem e a entenderem certas dificuldades. Quando aprendemos a analisar o presente,
revendo nossos erros do passado, temos a capacidade e oportunidade de mudarmos
alguma coisa no futuro. Fora isso, dificilmente. E isto é o que este livro nos
oferece: um olhar atento sobre uma
prática eficiente de educação para nossas comunidades.
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